quarta-feira, 18 de março de 2009

A LESMA CONSTIPADA



Mais uma vez, hoje foi dia do momento da história e o professor António esteve novamente na nossa sala para nos encantar com mais uma bonita leitura.




A LESMA CONSTIPADA

A humidade era um contratempo! Constipava sempre a lesma e, sempre constipada, a lesma espirrava a toda a hora!
Inúteis os casacos, as luvas e as meias de lã grossa! A lesma constipava-se! Uma maçada!
Nos saraus da Primavera, quando a fina-flor da horta e dos canteiros se reunia, a lesma achava um horror aparecer toda protegia por gorro, galochas, casacos e mantas, samarras e luvas.
Era claro que usava as mais distintas fazendas e os mais discretos padrões! Era evidente que os lenços tinham monograma! Era lógico que os gorros e os chapéus tinham o «toque» do Príncipe de Gales!... Mas era um pavor!
No meio dos bailes, no centro da orquestra, dentro das conversas, a lesma espirrava!
Junto dos decotes, perto das lapelas, ao pé dos laços, a lesma espirrava! No fundo da horta, através das folhas, no centro da alface, a lesma espirrava! Espirrava sempre e de tal maneira que desarranjava tudo à sua volta!
Necessário era pôr um fim àquilo!
Fez consultas várias, visitou os sábios, tentou os xaropes, ervas, infusões, sumos, chás, tisanas, beberragens várias, termas e termómetros, banhos de imersão, ar condicionado, dietas, biscoitos, pedaços de sol e muitas mais coisas que nunca uma lesma pensou experimentar…
Nada resultou! Espirrava sempre e de tal maneira que desarrumava tudo ao seu redor!
Decidiu então comprar um abrigo. Talvez protegia daquela humidade tudo terminasse.
Vestiu os casacos, calçou as galochas, colocou o gorro, enfiou as luvas, traçou os cachecóis (nos bolsos os lenços, nos olhos os óculos por causa do sol) e dirigiu-se ao jardim japonês a uma velocidade pouco própria para lesmas constipadas. No jardim japonês encontraria uma solução! Naquele jardim, perto de um bonsai com centenas de anos, próximo do lago coberto de lótus, vivia o caracol mestre do atrelado.
– Porque vens tu, flor mais fresca do que a alface, pela manhã? – perguntou o velho caracol à lesma. Vivia há tento tempo no jardim japonês que pensava ser já oriental.
– Não me canses! – resmungou a lesma, e espirrou, desmanchando assim a pose do amigo.
– Vejo preocupação no teu caminho – recompôs-se com calma o caracol. – A preocupação é uma nuvem que esconde a felicidade. Faz como o vento e afasta de ti as nuvens que trazem a chuva!
– Não me maces! – irritou-se a lesma. – E, sobretudo, não me constipes ainda mais com o que dizes!
– És então capas de te despachas a dizer o que vens cá fazer?! Não penses que a minha famosa paciência oriental aguenta gente mal– humorada. Sou um mestre japonês, mas não sou um caracol idiota, sua parva constipada! – berrou, já furioso, o caracol.
– Venho comprar um atrelado. Apesar de passares os dias inteiros a tentar levitar, vendes ainda atrelados às criaturas menos espirituais, penso eu…
– Tenho os melhores atrelados da história! Deixa-me só tentar sair desta pose japonesa e mostro-te já toda a minha colecção! – e o caracol apressou-se a descer da pedrinha onde costumava meditar. – A minha amiga deseja um de dois andares? Temos também os franceses, a que chamamos roulotte. Finíssimos!
– Não me aborreças! Só não quero um atrelado igual ao teu. Tem todo o aspecto de ser barato e não me parece nada complicado!
– Então a menina não deseja um atrelado igual ao meu seja, barato e simplório?! – o caracol pareceu sentir-se insultado.
– Também não quero que seja parolo – espirrou a lesma. – Se tenho de comprar um abrigo, quero que seja o mais moderno e perfeito que exista. Nada, portanto, que se pareça com o teu!
– Nunca verás um atrelado meu! Nem que tenha de comer rebentos de soja toda a minha vida! – declarou o caracol muito ofendido, recuperando, porém, lentamente, a sua pose oriental. – Fica sabendo que aquele que deseja o universo inteiro…
… perde as estrelas que a noite lhe traz…
– … e tu acabas de perder uma cliente! – interrompeu a lesma. – Não penses que não sei que o caranguejo e a tartaruga também vendem atrelados, e moderníssimos.
Claro que a lesma sabia que também o caranguejo e a tartaruga vendiam atrelados! Toda a gente sabia que aqueles dois também os vendiam!
Mas o caranguejo vivia .............................................................


Bruno Santos
Texto Editores

EB1 Chafariz d'El Rei - 1ºano

Professora Fátima

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